quarta-feira, 27 de maio de 2009

Parte II

Estamos acostumados com nossa terra, com o povo, com a alimentação e estilo de vida variados. Sim, no geral, nós brasileiros somos mais receptivos àquilo que é diferente, somos mais abertos, porque afinal, o Brasil é um país de extrema diversidade e contrastes em todos os sentidos (culturais, geográficos, sociais, etc), e estamos acostumados com isso. Podemos nos ver como pessoas adaptáveis a qualquer ambiente, não preconceituosas, tolerantes, compreensíveis e pacientes. Porém, o que está implícito e somente após algum tipo de experiência conseguimos compreender, é que essas características, foram desenvolvidas no nosso país, o Brasil, e em nenhuma outra nação. Temos um “ver”’ brasileiro, aceitamos de um jeito brasileiro e toleramos quando estamos em território brasileiro. Aquilo que está implícito se torna visível (e isso apenas pra alguns) somente após um tempo de vivência em outra nação, convivência e divergência com outros olhares. Para quem nunca fez uma viagem internacional, pode parecer complicado o que aqui foi descrito, mas alguns exemplos a seguir explicarão melhor esse fenômeno que denominamos choque cultural.
O primeiro exemplo é uma experiência pessoal minha, afinal, nada como ser contada por uma pessoa que conhecemos e que temos contato. Enfim, depois de algumas aulas sobre gestão de negócios, discursos de outras pessoas, programas de televisão, textos e etc, eu, como a maioria, aprendemos desde muito jovens que existem diversas culturas pelo mundo, e que apesar de termos origens e crenças diferentes, somos todos iguais e devemos respeitar cada pessoa. Ok, acho que todos aprendemos isso muito bem, e na teoria parece bem simples, não é? Mas e na prática? A teoria é sempre muito simples, porque usamos somente a razão. A prática, além de exigir o conhecimento, exige também nossa parte emocional e é isso que devemos praticar, e é por isso que experiências são importantes. E era exatamente isso que eu não havia compreendido até retornar de minha recente viagem em família á França.
Fazia tempo que não viajávamos para o exterior, em 2000 foi nossa última viagem e só para não perder o costume, fomos aos Estados Unidos. Pelo fato de ainda não ter amadurecido o suficiente naquela época e pelo fato de a cultura americana se assemelhar muito a nossa (grande parte no consumo), não tive um choque cultural tão forte a ponto de me deixar marcas. O único fator que me incomodou muito e que me recordo até hoje, foi a alimentação: “Como assim não tem arroz e feijão, mãe?!”. Oito anos mais tarde, a história se repetia: “Fígado de ganso? Credo!”. Assim como descrevi anteriormente, sabia que teria um choque cultural e acreditava que estava pronta. Mas durante a viagem, a qual durou apenas dez dias, me senti extremamente perturbada pela maneira como aquelas pessoas viviam e como elas se comportavam. Pensei muitas vezes em frases como “O Brasil, é muito melhor que aqui!”, mas oras, depois me dei conta de que é claro que para um brasileiro (salve algumas exceções) o Brasil seja melhor que qualquer outra nação. É obvio que se nascemos, crescemos e nos desenvolvemos nessa cultura que já estamos tão acostumados, criamos certo patriotismo. Mas também fica claro que esse sentimento, se confrontado com uma mudança radical dessa cultura e com uma exigência emocional elevada, teremos atitudes etnocêntricas. E é exatamente isso que temos que nos dar conta. Cada país é um país, e cada um tem uma cultura diferente. Não adianta acharmos que só porque nos adaptamos facilmente em nosso país, nos adaptaremos rapidamente a outro estilo de vida. Eu sabia que a França não era o Brasil, sabia na teoria suas diferenças, mas não sabia que viver a França seria chocante. É necessário experimentar, reconhecer e enfim se “internacionalizar”.
Outros exemplos advêm do ambiente corporativo, onde grandes empresas que ao se instalarem em outros países, não consideraram alguns fatores e depois de fracassos, acabaram reconhecendo e enfim conseguiram se internacionalizar. Algumas destas empresas entram no país sem um planejamento mais adequado e por isto falham. Exemplos disso foram: a demora para que a Pizza Hut finalmente se estabelecesse no Brasil, o Wal Mart que tentou vender taco de baseball em suas lojas brasileiras, a coca cola que teve de tirar suas garrafas de dois litros do mercado espanhol depois de descobrir que os compartimentos das geladeiras deles eram muito pequenos, e sem contar as inúmeras empresas que tentam entrar em alguns países mas que no fim desistem por não conseguirem se adaptar.
Há alguns dias atrás, assisti a uma palestra muito interessante na ESPM, sobre “Como atuar em um mundo globalizado” (ou alguma coisa do tipo, não me lembro exatamente), em que a palestrante era uma profissional de uma multinacional e que trabalha cada época em um país diferente. A palestra me fez pensar muito sobre tudo que escrevi nesse texto, e acho que não teria o mesmo impacto se tivesse ocorrido antes de minha viagem. Finalmente entendi esse tal choque cultural, o etnocentrismo, quais os motivos e razão de acontecerem. É engraçado, mas prático para explicar: lembra-se daquelas aulas de história do Brasil, em que os portugueses chegavam impondo sua cultura e penalizando aqueles que não a aderissem? Você não se sentia revoltado com essa atitude? Não achava que era errado, porque você aprendeu que deve respeitar as pessoas? Pois bem, é uma comparação bem extrema na verdade, mas é a mesma idéia de rejeição, julgamento, ou seja, o etnocentrismo. Mas só nos damos conta de que estamos tendo a mesma atitude, quando vivenciamos! Como disse, a teoria é muito simples: “Ame ao próximo”...

Nenhum comentário:

Postar um comentário